Experiências de campo para mitigação da erosão pós-incêndio

Decorrente das conclusões obtidas nos workshops anteriores realizados com os agentes locais parceiros do projeto RECARE, a Universidade de Aveiro iniciou recentemente as experiências de campo para mitigação da erosão pós-incêndio, implementando as técnicas que foram previamente selecionadas pelos agentes locais – incorporação de resíduos florestais (acolchoado ou mulching) e lavragem segundo as curvas de nível.

A nova área de estudo encontra-se localizada na freguesia de Semide, concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra, correspondendo a um incêndio florestal que deflagrou nos dias 9 e 10 de Agosto de 2015, tendo sido consumidos cerca de 700 ha de plantações florestais. A área afetada pelo incêndio cobre uma parte da bacia do rio Ceira (Figura 1).

Figura 1 – Vista parcial da área afetada pelo incêndio

Figura 1 – Vista parcial da área afectada pelo incêndio

Embora, até ao momento, a técnica de lavragem segundo curvas de nível não tenha ainda sido posta em prática, a técnica de aplicação de acolchoado foi já implementada utilizando resíduos de plantações de eucaliptos, em duas taxas de aplicação distintas: uma aplicação standard de cerca de 10 t/ha, a qual foi anteriormente demonstrada pela equipa da Universidade de Aveiro como sendo efetiva na redução da escorrência e erosão pós-incêndio, e uma taxa mais reduzida de cerca de 3 t/ha (Figura 2B). Esta taxa de aplicação mais reduzida representa uma diminuição de custos evidente, e tem vindo a ser testada em laboratório pela equipa da Universidade de Aveiro com resultados promissores. A aplicação do acolchoado de resíduos vegetais foi demonstrada a alguns dos agentes locais parceiros do projeto RECARE na própria área de estudo, no dia 25 de Setembro de 2015 (Figura 3).

Figura 2 – Diferentes escalas de estudo da aplicação de acolchoado: A – micro-parcelas de cerca de 0,5 m2; B – parcelas de 16 m2 (esq. 10 t/ha, dir. 3 t/ha); C – cabeceiras de 1000 m2 (3 t/ha)

Figura 2 – Diferentes escalas de estudo da aplicação de acolchoado: A – micro-parcelas de cerca de 0,5 m2; B – parcelas de 16 m2 (esq. 10 t/ha, dir. 3 t/ha); C – cabeceiras de 1000 m2 (3 t/ha)

Figura 3 – Demonstração da técnica de aplicação de acolchoado aos agentes locais parceiros do RECARE, em 25 de Setembro de 2015

Figura 3 – Demonstração da técnica de aplicação de acolchoado aos agentes locais parceiros do RECARE, em 25 de Setembro de 2015

O estudo em curso contempla diferentes escalas de aplicação das medidas selecionadas, incluindo, por exemplo, micro-parcelas de cerca de 0.25 m2, parcelas de cerca de 16 m2, cabeceiras de cerca de 1000 m2 e uma bacia hidrográfica de cerca de 14 ha (Figura 2). A área encontra-se instrumentada com tecnologia que permite recolha de dados de forma contínua e com elevada precisão, incluindo sensores de humidade e temperatura do solo, sensores de registo da escorrência nas parcelas, diversos pluviómetros, uma estação meteorológica e uma estação hidrométrica (Figura 4).

Figura 4 – Estação meteorológica (A) e estação hidrométrica (B) instaladas na área de estudo

Figura 4 – Estação meteorológica (A) e estação hidrométrica (B) instaladas na área de estudo

Dado o carácter fortemente interdisciplinar do presente projeto, o trabalho irá também avaliar os impactos da técnica de aplicação de acolchoado na dinâmica da matéria orgânica e dos nutrientes do solo, e ainda na biodiversidade, em diferentes níveis da cadeia trófica (incluindo microrganismos, animais invertebrados, vegetação terrestre e aquática). Finalmente, o estudo irá ainda comparar as duas técnicas de mitigação da erosão com respeito às suas consequências nos serviços de ecossistema facultados pelo solo, utilizando as ferramentas que têm sido desenvolvidas pelo projeto RECARE.